E chegou a hora de deixar a Índia. Entre idas e vindas nos últimos três meses, tudo mudou mais rápido do que o esperado. E, assim, acabamos encurtando um pouco nossa temporada no subcontinente. Os próximos passos, bom… uma outra história, para um próximo blogue.
A verdade é que retornei a uma Delhi um pouco diferente da que encontrei há uma ano e dez meses. Primeiro, o novo aeroporto. Gigante, dito um dos maiores do mundo, inaugurado há pouco tempo para os jogos do Commonwealth, que aconteceram aqui na cidade nos últimos dias. Tudo muito suntuoso, mas nada muito diferente. Nos longos corredores, vazios, forrados por um tapete cafona colorido, ao andar pelas esteiras rolantes (progresso!), já se notava algumas pessoas dormindo nos cantos, umas ao lado das outras, os sapatos enfileirados em frente. O carpete parecia bastante confortável. Na saída dos passageiros, uma primeira área (dentro do aeroporto) estava vazia. Fiquei aflita por não encontrar Luís e já comecei a pensar como faria para chegar em casa, estava sem celular e tal. Mas quando a porta automática se abriu, vi a multidão lá fora e, no meio da muvuca, lá estava ele. Por alguns minutos esqueci que, aqui, só entra no aeroporto quem vai viajar.
No dia seguinte, Gurgaon também estava um pouco diferente. O asfalto das ruas sofreu muito com a intensa chuva durante as monções – este ano foram fortíssimas – e não é raro cair num buraco. Mas o metrô que liga a cidade satélite a Delhi já funciona a pleno vapor. E a maior diferença na paisagem: os auto-rickshaws (antes quase inexistentes por aqui, onde dominavam os de bicicleta) tomaram a cidade. Nas cores verde e amarelo, eles agora circulam para todo lado, sobretudo perto das estações do metrô. Há ainda uma faixa pintada no chão que foi feita especialmente para os jogos (claro que ninguém a respeitava).
E encontrei a nossa casa muito parecida. Apenas as plantas cresceram um bocado! O micro “jardim” da varanda está viçoso e muito verde, com um canteiro que quase virou uma selva de pés de pimenta, tulsi (o “manjericão sagrado” daqui), e algumas flores e trepadeiras. As últimas pombas – minhas maiores inimigas nessa casa, sempre emporcalhando tudo e fazendo ninhos por todas as janelas – nasceram atrás do ar-condicionado. Enquanto eu estive aqui, sempre as afugentava e desfazia o ninho para que elas não voltassem para aquele cantinho entre o vidro e o aparelho do ar. Mas elas ficaram livres nos últimos meses e quando cheguei encontrei dois filhotes recém-nascidos. São as coisinhas mais feiosas do mundo. Mas confesso que a minha raiva das pombas amainou e fiquei até comovida ao ver mais um par de criaturas nascidas nessa casa.
Já comecei a sessão selecionar e empacotar. Milhares de coisas foram para o lixo, papeizinhos sem fim, comidas antigas, embalagens usadas etc. etc. Várias outras coisas serão doadas. Duas malas, com roupas e roupas de cama, já estão prontas. Amanhã vêm os caras da mudança. Embalar tudo, depois levar para o contêiner. Nossa mudança vai cruzar os oceanos junto com as coisas dos nossos queridos amigos Claudia e Jan. Seguiremos vizinhos no outro lado do mundo!
Mas ainda não encerramos… aguardem mais notícias, caros leitores.